Não, não vou falar de um festival de rock. Não vou falar de uma experiência de cinematográfica do retrato de um pugilista.
Cheguei ao País Basco encolhido, e saí de mente aberta. Experiências novas proporcionaram novos horizontes e novas fontes de motivação, que não são contrariadas por um dia-a-dia por vezes monótono e repetitivo. O local é o mesmo há quase dois anos. A vista também. O computador um pouco mais recente. A cadeira não, mas é bem confortável. Tudo isto vicía.
Por muito que esteja preso por correntes a seguranças que ainda tenho, sinto que outros ares me fazem bem, me pacificam, e me libertam. O ar de Bilbao foi capaz de fazer isso tudo.
Gostava de poder ter feito um diário, mas não consegui. Eram coisas a mais para tão poucas horas que um dia contempla, e ainda por cima o motivo mais forte desta visita, o científico, pede mais concentração, e por isso descanso. As primeiras horas são difíceis. Demasiadas interrogações. Espero pelo dia seguinte. Manhã cedo, muito cedo, depois de uma noite com a companhia salutar das turbinas do ar condicionado, saio. A primeira vez faz os planos mudar.
Primeiro impacto com situações idênticas à minha. Primeiras conversas, primeiros silêncios ensurdecedores. Conversa de circunstância procura saber o que é que cada um faz, o que é que cada um está ali a fazer. Dá para desentorpecer a língua que durante algumas horas esteve parada. Procedimentos de identificação, organização, normais num certame do género. Primeira apresentação. O cérebro ainda está dormente e pouco preparado para receber informação numa língua que não lhe é familiar. Aos poucos vai-se adaptando. Acompanho, não percebo. Foi bom. Intervalo para especialidades gastronómicas que rapidamente enjoam devido à quantidade invulgar de gordura. No entanto a gastronomia é um dos factores culturais que aprecio, e não quis deixar de provar. Regresso ao cinema. Muda o actor principal e o título do filme. O filme é interessante, motiva, faz-me sorrir e pensar que afinal o que faço pode ser útil. É só ter um pouco de imaginação.
Foi um dia longo. Mas ainda não acabou. Sempre com medo que a fome aperte, a visita a um supermercado torna-se indispensável quando me encontro em viagens.
Tinha sido combinado hora e local, à moda muito antiga, quando ainda não havia telemóveis. Estou atrasado e decido não ir. Continuo pela gastronomia local. Vou tomando o pulso aos hábitos de vida locais. Um copo ao fim da tarde, acompanhados com os tradicionais pintxos, depois de um dia de trabalho. Os filhos acompanham os pais, e fico do lado de fora agarrados às suas consolas. Um volta pelo praça, e acabo por encontrar-me com os combinados. Deixei correr o tempo mais do que queria, afinal, já havia uns dias de alguma insónia. Encontro em mim uma capacidade estranha de ter lata para pedir favores a pessoas que não conheço, e que se limitaram a partilhar a sala comigo durante uns dias.
Agora sim é hora de partir. Queria condensar uma semana em poucas linhas. Condensei um dia, e assim sigo para o próximo.
Fim de Crónica
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