domingo, 22 de junho de 2008

Diário de um dia de solidão

Manhã cedo, a tendência dominical de espernear e saborear cada pedaço de lençol é interrompida. Sono leve, espero que a luz artificial indique que é hora de saltar.

Primeiro tem que se recuperar o atraso que Coimbra tem para o resto da Europa e que me deixa longe, muito longe de plataformas de me lancem para o mundo.
Chegado à capital, procuro maneira de cumprir os últimos quilómetros. Primeira conversa longa, na língua de Shakespeare. Cumpro o meu papel de tradutor para o turista que viajava para Istambul. As semelhanças físicas de tonalidade são tão grandes, que julgam que eu pago dois bilhetes. Conversa de circunstância, desenvolvo anticorpos, não confio. Chegado o ponto de clivagem, cada um para seu lado.
Tenho um certo apreço por aeroportos. A mistura de culturas, línguas, pessoas diferentes, e os aviões fascinam-me. Várias almas solitárias na zona de restauração em hora de almoço.
Não percebi o porquê de uma duração tão grande do voo. Quando vi o avião percebi. Viajar de avião não é uma experiência de silêncio. A certa altura o ruído é embalador, e dá para tudo. Aproxima-se o solo, que não vejo e que me faz desconfiar. Tocar o solo. Procura-se a guarida, por ruas desconhecidas. Quem teve boca não foi a Roma, mas veio ter ao hotel. Num daqueles complexos masculinos que aos poucos me vou consigo libertar, vou perguntado informação aqui e ali, e é muito mais rápido, perde-se menos tempo. É só admitir alguma fragilidade no nosso GPS. Neste caminho mais uma longuíssima conversa, tendo em conta que a duração fugaz das restantes. Um guia improvisado indica o caminho até à sede. Fala-se de futebol, Portugal, países. Logo aqui tomo pulso a uma cidade que vive pouco a sua selecção. Talvez pelo desenraizamento face ao resto de país, não há o mínimo sinal de que a Espanha está na Eurocopa. A primeira parte, no hotel. Na segunda preenche-se um estômago com as tradicionais tapas, e vê-se futebol acompanhado de cerveja. Não há vibração, não há bandeiras, não há espírito. Em certas alturas do jogo, não havia ninguém mais interessado no jogo que eu, que nem só café, nem leite. Achei isto estranho, apesar de me convencer durante este que as pessoas que vivem e sofrem o futebol são uma minoria.
Alguma embriaguez de alguns compinchas de tasco, faz-me abandonar o tasco, e voltar ao quarto. O jogo termina, e está na hora. Cama. Mas ainda escrevo, e porque escrevo? Contrario a solidão? Sim, acho que sim.

Se continuar assim noutos dias, é mau sinal. Fim de Crónica

1 comentário:

An@ disse...

Primeiros dias...as novidades e as diferenças que o espaço, o tempo e a própria pessoa podem criar...mesmo que sem querer!

Nem sempre o silêncio e a solidão são isso mesmo! Talvez nem sempre consigamos tornar/fazer desse silêncio o usufruto suposto...parar e pensar...


Lembra-te a maltinha que fala a tua língua e não tem bem o tom de pele como o teu ;) Estamos sempre contigo e não te deixamos sozinho...nem Ele *

enjoy it