sábado, 3 de maio de 2008

Noite 0/1 (não sei bem, estou baralhado) - 5h33

Estou nesta altura, sentado na minha cama a escrever. Recebi a mais inesperada boleia de sempre até casa. Foi bom, engraçado como posso ser surpreendido. Conclusões imediatas: estou velho, no ano passado aguentei bem mais tempo, foi mais divertido, não me senti um estranho no meio de uma multidão de capa e batina. Estava também bem mais embriagado, mas isso não explica tudo. Já não é a minha festa, já não sei o que estou a festejar. Um jantar de curso que dispersa, com engenheiros espalhados por essa cidade, com estudantes cada um para seu lado. Onde estão os meus (ex-) colegas de curso? Não, já não consigo. Nada será como a primeira noite de Queima como estudante. Não, o tempo não volta para trás. Não tem de voltar, não vai voltar, e não quero que volte. Há coisas que são vividas uma vez na vida. A Queima é uma delas. Cada uma teve um gosto especial, como estudante. Agora deixou de ter.


Tudo começa bem tarde. Procuro arrastar o que tenho a fazer até quase à hora de jantar. Consciencializado da dureza da semana que se avizinha, com novos desafios intelectuais pela frente, arranquei para a semana de folia mais badalada de Coimbra. Chegado ao café da concentração, já é hora de sair para jantar, mais que hora. O que vale é que houve um reforço preventivo antes de deixar o lar. No sítio de picnic, a gerência esperava menos foliões para jantar. Há que improvisar um jantar ao ar livre, com risco de apanhar dejectos humanos em cima, com mais mesas do que estava previsto, e com menos reforço alimentício para cada folião. Jantar que é jantar, não acaba com uma limpeza estomacal, com uma bebida bem espiritual para levar com ela todos os males do corpo. Findo o jantar mantenho-me fiel à minha tradição. Desde o primeiro ano que vou ter com os médicos para me tratarem nesta noite de Serenata. No caminho íngreme até ao recinto festivo passo por estranho sítio, onde estão muito rapazes à janela, cheios de vontade de nos seguir. O meu bom senso, não me deixa trazê-los. Passagem por segunda ou terceira casa, e reabastecimento líquido no incomparável Couraça, são obrigatoriedades em noite de Serenata. Entre avanços e recúos, caras conhecidas, reencontros vai sendo uma espera agradável na Couraça de Lisboa. 
Finalmente de partida para o convívio, ainda um pouco reticente quanto ao ambiente que posso encontrar lá dentro, mas seguro que ia entrar, vão surgindo informações de que vale a pena o investimento. Enquanto se espera pelo bilhete, mais um reencontro com vários quilómetros e meses de interregno. Chegada a hora de entrar, não há novidades. Há gente por todo o lado. É difícil encontrar quem quer que seja no meio de tal multidão. Vagueia-se entre pinguins de capa e batina. E quando sinto que não dá mais é hora de partir. Parto então rumo a casa, últimas combinações para o dia seguinte. Um táxi passa, estendo o braço e ele não pára. Surge então a tal boleia inesperada, que exigiu que o acompanhasse. Soube mesmo bem. 
Já não é a minha Queima.

Fim de Crónica 


1 comentário:

micose_ou_mifrita disse...

:-S

Que porra.
Como gostava de estar errado.
Mas é mesmo isso. Concordo plenamente com o teu primeiro paragrafo. E com o ultimo.
Já não é a nossa Queima

Mas ja tinha saudades da forma "tão tua" como contas este tipo de noites. Não fui lá ontem.
Talvez não vá hoje.

Afinal.. já não é a minha queima...