domingo, 11 de maio de 2008

Dia 8: James, Fim, Kiss & No Cry - 5h30

E pronto chegou ao fim aquela que considero a minha Queima de bónus. Com um dos melhores concertos de que tenho memória no recinto da Queima, com amigos, sem choro e sem mágoa, ainda sem vislumbrar qualquer vestígio de luz diurna chegou ao fim. Não sei onde vou estar para o ano. Há um ano também não o sabia. Sei que enquanto não for ainda mais crescido não vou conseguir ficar indiferente. Não volta a ser o que era, mas mexe com anos marcantes da minha vida. E isso já não consigo mudar.


Primeiras horas da noite, enquanto vão aparecendo zombies em casa, trocam-se contactos, tentam-se jantares, mas as combinações vão caindo por terra, e até que fica uma e uma só. Preciso de um abanão, que me desperte para o último rebuçado da semana. Local e hora combinada, não vejo rostos conhecidos. Volta ao quarteirão, saio de onde estou para voltar daqui a pouco. Os minutos vão passando, e depois de beber o despertador decido ir beber um copo com os antigos vizinhos da frente. Antes, alguém requisita os meus serviços de taxista. Taxista tem que falar, e fala sobre música, concertos e naturalmente futebol. Na portagem à hora marcada, lá está o copo curto demais, mas valioso com os antigos vizinhos. Conversa em dia, inevitavelmente sobre trabalho e futuro. O normal, com a idade as coisas mudam. Daqui a uns anos falaremos de electrodomésticos, divisões de casa, roupas e carrinhos de bébé. Há alguma pressa em ir para o parque, não vão os James pregar uma partida e começar mais cedo. Com ingleses nunca se sabe. 
Caem as luzes sobre o primeiro concerto da noite, e enquanto se prepara o palco, os céus iluminação de fogo. O meu primeiro visto do parque, de um ângulo ideal. Fascinam-me estes espectáculos, ponho-me a pensar o tipo de reacções químicas que provocam os efeitos visuais e sonoros que vêm dos céus.
Quando me virei para o palco, já estava tudo pronto. As luzes baixam e sobem ao palco os James. Tim Booth vem de moletas, ao que parece entusiasmou-se num concerto em Madrid. A sua mobilidade da cintura para cima não é afectada. Tudo o que desse para levar para casa uma recordação do concerto estava nesta altura no ar, dando uma imagem engraçada de um concerto de hoje em dia. A geração "Dá cá o telemóbel" não facilita, seja com o telemóvel ou com a máquina digital. Amanhã haverá resumos do concerto no YouTube certamente. O meu pouco conhecimento da vida e obra dos James, faz-me experimentar as músicas pela primeira vez. Ao vivo soa (quase) sempre incrivelmente melhor, mas fiquei tentado. A consistência dos sons que saíam das colunas agradava-me. Entre sucessos e músicas novas, em pouco mais de 80 minutos de concerto, os James deram um grande concerto, dos melhores que vi naquele recinto. No fim durante alguns minutos o público ficou sózinho a cantar o "Sometimes" enquanto a banda em palco contemplava. Demorou a conquistar os mais cepticistas, mas no fim do concerto fica a sensação que os James podiam mesmo ter continuado mais uma hora em palco, com total acordo de todos os presentes. Foi também o maior concerto da Queima em termos de assistência.
A multidão tinha dispersado, e era mais fácil marcar encontros. Junto ao palco conferencia-se o que se segue. Se ficávamos à Mesa, ou se íamos para as barracas. Benefício da dúvida, e ficamos à Mesa. Disco novo na manga, foi mais um concerto com nota positiva, porque não esperava rigorosamente nada da actuação dos Mesa. O segundo disco tinha sido uma desilusão para mim. Acredito que da pequena multidão que estava a ver o concerto, muitos estivessem de olho na vocalista da banda. Impossível ficar indiferente. Tiveram pelo menos o mérito de me despertar interesse pelo o novo disco que concerteza vou ouvir.
Altura para ir à zona de restauração, deste centro comercial onde muito se vende. Primeiro localizam-se Jacarés. Não foi difícil, a indumentária listada, claramente distinguível dos restantes foliões, tornou o trabalho simplificado. Motivo: a subida de divisão. Regresso à zona de restauração. Começa a retirada em massa do parque. Decido ficar mais um pouco. Ainda há jacarés por aí. Ao fim de alguns minutos são encontrados, mas rapidamente desaprecem, em busca do líquido precioso, chuva dourada com bolhinhas e espuma. A monotonia das barracas cansa-me tão depressa que decido pôr um ponto final, neste bónus, que veio dentro de um kinder surpresa, do qual não for preciso comer o chocolate.

Tirei algumas conclsusões, ideias e questões durante a Queima. A primeira: sou um tipo comum, facilmente confundido com outros, nomeadamente jogadores de rugby. A segunda: o novo formato da Queima é muito melhor para quem trabalha do que para os estudantes, não sei em que lado da barricada me vou colocar. Como não há aulas durante a Queima, não percebo o porquê de tanta alteração. Terceiro: as barracas dão-me pelos cabelos. São monótonas, cheira mal, estão cheias de míudos, estão cheias de bêbados e não trazem nenhuma novidade. Quando comecei nestas andanaças, passava lá a vi. Será isto velhice, alteração de gostos ou crescimento? Quinto: quando é que o número de noites do parque pára de crescer? Mais qualidade e menos dias, por que não? Sexto: quanto é que vou ver no parque uma banda internacional de que realmente gosto? Sétimo e último: não quero ser lamechas, fica-me mal, mas a verdade é que, apesar de ter levado a música demasiado a sério, a Queima foi festejar as amizades, as famílias e as pessoas que tornam o meu dia-a-dia diferente. Por isso o meu agradecimento a leitores e não leitores, aos que gostam e aos que não gostam, aos que me aturam e aos que não me aturam. E a mais alguém...

Fim de Queima

1 comentário:

Laurinha disse...

Decidi arriscar e ouvir (James) ate ao fim. Porque não?
Ouvir…
A entrada de muletas não prometia grandes expectativas. Em branco…
De braços amarrados estava eu, num gesso forte por entre amigos, no qual vão deixando marcas, ora assinaturas, ora desenhos, promessas, …ou nadas.
James chama-se. Atentamente fui ouvindo, num silêncio movimentado o que me tinha para dizer. Olhar erguido, mente em processamento, e sobrancelha franzida…

Há saltos que nos convidam a saltar também. Saltos de cadeira, de trampolim, de reggae, de pó, saltos de gesso! Há forças, há envolvimento, há pessoas, há músicas e letras, há amizades… e há nadas que se transformam num todinho harmonioso, mesmo em tons de branco & preto!
E salta, e vive, canta, e dança! APAIXONA-TE!
(arrisquei…saltei e caí. Caí em mim…)
Olhei à volta, sorriso elevado para o céu, braços empoleirados em Nós (uns com gessos, outros sem…) e TODOS num coro apaixonado Nos dizíamos:


“Sometimes, when I look deep in your eyes, I swear I can see your soul”
“Sometimes, when I look deep in your eyes, I swear I can see your soul”
“Sometimes, when I look deep in your eyes, I swear I can see your soul”


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