Cortejo ao domingo não parecia boa ideia, mas sinceramente gostei. Às vezes sou mesmo averso à mudança, mas ela tem os seus lados positivos. Negativos também os terá certamente, mas para já os aspectos positivos, sobressaem claramente. Continuo sem me sentir estudante, mas estou feliz e contente. Afinal ainda tenho um pouco da academia dentro de mim.
Habituado à pontualidade estudantil, e com receio das massas que neste dia visitavam Coimbra, saí depois de uma hora de sofá, a pé, solitariamente. O conforto de sair de casa sózinho, sabendo que há sempre alguém que me fará companhia, é das melhoras coisas. Quero-me dirigir aos carros parados, porque em movimento o stress é maior, e geralmente saio pior servido. Chegado ao primeiro ponto de curzamento com o cortejo, vejo que o ritmo está elevado. Não o das cerveja que se vão esvaziando (esse também), mas principalmento os carros. Seguem em ritmo veloz, para as condições de circulação proporcionadas. A multidão do costume. Sorte a minha que os carros, com barmen's conhecido não circulam na frente do pelotão. Ver a cara de felicidade de alguém que vai distribuindo o que poupou pela cidade, é ao mesmo tempo bonito e nostálgico. Olhar para aquele lugar, tão distante, mas ao mesmo tempo tão próximo. As poucas horas de alegria em que tudo se partilha com conhecidos e desconhecidos, são das minhas melhores horas de queima como estudante. Ver amigos nesse lugar, faz-me ficar contente, por eles, porque percebo e partilho do que estão a sentir. Por isso queria mesmo dizer-lhes, pessoalmente, que estou contente por eles.
Primeiras companhias logo nesse ponto de cruzamento, Sigo escada a cima, velozmente com receio que a ordem de partida já tivesse sido dada aos mais madrugadores. Foi por pouco. Ainda há tempo para beber a primeira cerveja bem fresca. Alguns veículos depois, mais um abastecimento líquido. O cortejo não pára. Perde-se por momentos a companhia. Mais tarde ela volta, e prova que é possível Queima sem telemóvel. É apenas uma questão de encontros e desencontros. Paragem seguinte, apenas reabastecimento sólido. Carro pouco apetrechado a nível de logística para resíduos líquidos. Alguma falta de jeito também. Não era engenharia, de certeza...
A primeiras cartolas vão descendo pelas cabeças abaixo. Cumprimentos, abraços, desejos de boa sorte. Avança-se mais uns metros, mais uma paragem, mais uma lata, mais um cumprimento. Meia dúzia de metros mais à frente, nova paragem, nova cerveja, esta bem mais fresca. Procuro refrescar as cervejas que vão aquecendo. Sem grande sucesso. Em vez disso recebo mais cerveja fresca. Última paragem. O 61, muito publicitado, e bem abastecido. Paragem longa, enquanto se come, bebe. Parece que é com este que vou descer. Bem mais cedo do que é normal, os motores aquecem e os últimos carros já estão em movimento. O carro tem ritmo lento. Circulo por entre carros à procura de uma bengalada. Já há abastecimento com para mais umas horas de cortejo. Sai da multidão uma bengalada, beijinhos e cumprimentos emocionados. Regresso ao carro, ao menos ali sei que estou garantido, não passo sede nem fome. Mais uma cartola para empurrar para baixo, e um desvio para novo reabastecimento líquido, com promessas de imensa frescura, que não foram em nada defraudadas. Há que retomar o cortejo, porque este outro cortejo fresco, ainda está em lista de espera para sair.
E durante alguns minutos (assim me pareceu), andei só (ou talvez não), por entre carros, e pessoas. Lá ia parando em certos apeadeiros. Dois dedos de conversa, bengalada para um lado bengalada para outro. O ritmo é forte. A família recebe mais uma representação no cortejo, ainda que atrasada, mas valiosa, por eu não duro para sempre. Os olhos vão ganhando brilho e o sorriso vai saindo mais facilmente. A sede não perdoa, e de vez em quando há devios em busca de esquinas. Reencontros, paragens, e um regresso ao carro de apoio, em busca de abastecimento. Preços infalccionados não me impedem de procurar outros meios de reposição de energia. Partilho a minha aquisação com quem vou encontrando. Mais desvios. A alteração do formato em que a bebida rainha do cortejo era distribuída estava a ter os seus efeitos. A tradicional mini de 20 cl, foi, em nome da segurança, substituída pela lata de 33 cl. Ao fim de 3 latas era como se tivessem sido bebidas 5 minis.
Largo da portagem, começa o ajuntamento de procura de sítio de repasto. As palavras saem arrastadas e com mais facilidade, os filtros aos poucos vão caindo. Há que pôr um travão. Finalmente, ao terceiro dia de queima, há um jacaré na portagem. Convite de jacaré para jantar é quase irrecusável. Mas havia um compromisso. Primeiro renega-se o compromisso, mas há tempo para voltar com a palavra atrás, e reassumir o compromisso. Sem restaurante, o estigma do centro comercial volta a pairar nos ares. Não, outra vez não por favor. Com a mestria de outras épocas e depois de percorrer os labirintos da baixa em busca de um restaurante fechado, lá aparece um sítio simpático, que começa a ser um clássico em dia de cortejo. Acho que preciso de comer, e a fome não se esgota. A sede também não. A comida foi demais, mas o preço ainda não pesou muito na carteira. Regresso à portagem. Conversa-se ao telemóvel com a máquina fotográfica. Mais uma cerveja num formato mais próximo do tradicional, mas com efeitos que se viriam a revelar nefastos, dada a frescura deste líquido. Sentados na calçada, aparentemente limpa, ao que os meus olhos conseguiam ver, lançava autênticas postas de pescada, que, embora ditas conscientemente, dificilmente saíram noutro contexto. "Vamos para o Parque?", é domingo meus senhores. A minha época de capa e batina já terminou. Mas não resisto aos apelos, de quem me faz querer continuar a viver a queima. O Zé estava a apertar com ela, ajoelhado a rezar, mas rapidamente se retirou. Deu lugar a um batalhão de gente no palco. Banda tradicional das festas de aldeia. Porquê ter músicas próprias se a tocar as dos outros conseguimos ter muito mais sucesso? E de facto, todos os estilos musicais passaram pelo palco. Destaco particulamenter a voz de locutor de rádio local que o "líder" da banda tinha. Era fantástico, se fechasse os olhos era como se tivesse no meu quarto a ouvir a rádio maiorca. O meu pouco bom senso disse-me: "Se calhar é melhor ir dormir, que amanhã é segunda". Desconfiado segui o seu conselho.
Chegado à cama, senti-me agradecido. Foi um dia bom. À falta de motivos de festa, encontrei amigos, conhecidos, familiares, e desconhecidos, e a eles festejei. Pensei em mandar uma mensagem lamechas a agradecer a todos os que fizeram este filme, mas não tomei a decisão na altura. Talvez quando acordar a ideias estivessem mais claras, e eu pudesse perceber se faria sentido. Quando acordei não fez, de todo.
Cortejo ao domingo, por favor, sim, claro, gosto. Assim, será mais fácil cá voltar.
Cerveja de lata, aprovada. O sabor não muda assim tanto, é menos perigoso, houve de certeza menos cortes, e mais gente para ajudar os mais embriagados. Uma palavra para os quartanistas (acho que ainda se chama assim), que respeitaram escrupulosamente esta nova regra. Valeu a pena o esforço.
Agora começa a baralhação. Hoje ainda é fácil fazer o paralelismo com o ano passado. A partir de amanhã não sei.
Fim de Crónica
1 comentário:
Li o teu post, aos tragos, saborando cada paragrafo, como fiz ontem com as (poucas) bebidas brancas que fui obtendo dos carros.
É um previlégio saber como vais vivendo estes momentos. Ter acesso a estas partilhas tão pessoais, mas ao mesmo tempo algo vagas e enigmáticas.
Tambem me deu muito gozo ver a alegria genuína (ou talvez um pouco exponenciada pelas quantidades de alcool ingeridas) de tanta gente. Recordei muitos momentos dos meus cortejos. Com saudade. Mas sem nostalgia barata.
Acabei na Eucaristia (porque afinal era Domingo...). Não sei se ainda um pouco embriegado, mas muito cansado das emoçoes do fds.
Hoje volto lá baixo. Pelas bandas (que é algo que um estudante famais faria). Depois de um fds tão intenso, espera-se uma noite mais fraquinha. A ver vamos...
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