quinta-feira, 8 de outubro de 2009

Teoria do tamanho das cidades

Será hoje?
Parece-me que sim. Passada a campanha legislativa, e enquanto lá fora ainda se faz campanha desta vez para as autarquias, eis que numa manhã levanto-me e decido que vou escrever sobre aquilo que há muito prometi. A teorização da forma de adaptação às cidades.

Está quase a fazer um ano que deixei uma cidade de 100.000 habitantes para viver numa cidade, que segundo a wikipédia tem pouco mais de 500.000 habitantes. E para além destes, há um imenso mar de gente que vive à volta desta cidade, e que por ela passa quase todos os dias. 
É portanto muita gente. 
Para quem vem do meio pequeno, é demasiada gente. Mas por estranho que pareça, quanto maior é a cidade, maior a tendência para a solidão. É porquê? Porque não há tempo. O tempo que é gasto em deslocações é tendencialmente longo e solitário. O iPod é um companheiro inseparável de quem vive numa metrópole. Conversar com desconhecidos é um risco que não se deve correr. E será que o desconhecido está interessado? Estarei a fazer figura de parvo? Não, eu não ando à procura de amigos nos transportes públicos. Mas face à escassez de tempo, até que nem parece ser uma má ideia. Cada pessoa neste imenso maranhal tem o seu espaço. Espaço que dificilmente é invadido por um desconhecido. Existem sítios onde podemos fazer-nos amigos e outros que não. A mesma pessoa numa situação pode ser extremamente receptiva, e noutra querer preservar-se. Estranho não é? Sim, é estranho, mas eu concordo. Há sítios para tu. Os nossos estados de espírito são como t-shirts diferentes que tiramos de gavetas. Uma para cada ocasião.

Quanto maior a cidade, mais tempo se gasta em deslocações, menos tempo se tem para outros, maior o tempo de solidão e muito provavelmente, os rostos são mais fechados. Não quero especular, mas parece-me que quanto menos tempo as pessoas têm para se relacionar, menos felizes são. No fundo não é novidade nenhuma, é só uma coisa que eu ando a pensar. 
Como ser feliz numa cidade muito grande? Aos poucos. É preciso sentir que a cidade também é minha. É preciso aceitar que para ter um cem número de facilidades na palma da mão, tenho de abdicar de outras, incluindo esse imensurável valor que é o tempo. É preciso também dar tempo para que isso aconteça.

Coelho de coração na púcara é bem bom. Florence and the Machine vêm provar que em música também é muito bom. Lungs o álbum de estreia destes britânicos, encabeçados por Florence traz este Rabbit Heart. Estão em alta por terras de sua majestade.


Fim de Crónica

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