José Cid, um compositor estrondoso. Nas suas músicas a métrica é implacável, as rimas não faltam, e não há aquela comezaina de sílabas característica das música portuguesas cujos versos são intermináveis.
Todo este fascínio de José Cid pela métrica pode ter resultados desastrosos, ou seja, letras mirabolantes com significados duvidosos.
Vamos para isso analisar o seguinte refrão:
Lá vai o Zé da Anita
Chegou a Noite e o Zé lá vai
A Anita não é bonita
Mas acredita que a noite cai
Rima de primeira qualidade, cruzada. Mas fecho os olhos e o que vejo é o Zé a ir a correr, continua a correr e a lua a subir. A Anita de óculos e aparelho, à janela de noite, espantada porque sua crença confirma-se, a noite caiu. O que mais me intriga neste refrão é saber exactamente o que quer dizer esta relação entre a beleza da Anita e a noite cair. É que acreditar que a noite cai, não é difícil, porque a noite cai mesmo. Em sentido figurado, mas cai. Será que o facto de acreditar que a noite cai, torna-me mais bonito, ou mais puro de coração? Ou será que a beleza da Anita sobressai na escuridão?
Apeteceu-me dissertar sobre isto, sou mesmo triste.
Fim de Crónica
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