Faz hoje precisamente seis meses que me mudei para Lisboa. Para assinalar esse facto, desde Coimbra, achei que está na altura de um pequeno balanço. O meu único medo neste balanço, é expôr-me de maneira a que a minha fragilidade saia por todos os lados. Não considero isso bonito, é quase pornográfico. Vou tentar não o fazer.
A minha casa de Coimbra é muito boa. Confortável, grande, com várias assoalhadas, sem vizinhos de cima ou de baixo. É uma casa. Por aqui perto não se ouvem aviões ou comboios. Há os carros que passam aqui por trás, mas que fazem pouco barulho. A casa sofreu obras de melhoramento que a deixaram mais quente, e mais surda. A casa é também um pouco fria. Em Lisboa a casa é quente confortável, pequena, ruídosa, ouve tudo. Fiquei meses à espera de um pôr do sol atrás de Monsanto, mas o pôr do sol saiu uns metros ao lado. É uma casa igualmente boa, mas não é minha. Não é mais que temporária.
Ainda não deixei que Lisboa me abrisse as portas ao fim de semana, ao sol, aos passeios de máquina fotográfica ao pescoço. Meu Deus! Sou português, para quê turismo em Lisboa? Esta mania de que só se faz turismo no estrangeiro tem muito que se lhe diga. Lisboa quer entrar, convida, mas vou ignorando e Lisboa não insiste. Va lá, ao menos é bem educada. Não tenta derrubar o meu interior e apoderar-se dele à força. Gosto de ti assim, Lisboa. Uma coisa é certa, muita gente passa por ti. Muita gente com histórias, com vidas. Mas para que quero essas histórias e essas vidas? Para quê? São ilhas a boiar em oceanos. E mesmo para as ilhas onde atracamos, a minha vontade é soltar as amarras. É a pressa de chegar as portos seguros.
Nada de andar ao sabor do vento. Sempre com o motor ligado, pode ser mais caro, mas o controlo é maior. Não quero lançar as velas. Acho que assim não dou espaço para que os novos mundos apareçam, mas a perguiça vence, e as velas ficam guardadas para outras ocasiões.
Preciso de portos seguros, novos, diferentes. Preciso de deixar a perguiça e lançar as velas, e voltar a navegar. Em tudo, Lisboa tem vento, muito vento. Ainda não o soube aproveitar.
Música de hoje, Bruises dos Chairlift. Já a conheço há uns tempos, mas associção da música à publicidade do iPod nano deu um impulso decisivo.
Fim de Crónica
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